O PONTO DE MUTAÇÃO
(Maurício da Silva)

Síntese Conceitual, contendo a chave de leitura do filme
Vídeo do filme Ponto de Mutação


O Ponto de Mutação é um livro de Fritjof Capra publicado em 1983. O nome do livro foi extraído de um hexagrama do I Ching. Nele, Capra compara o pensamento cartesiano ao paradigma emergente no século XX. 

O pensamento Cartesiano está embasado no paradigma mecanicista, sobre o qual foi construído o conhecimento da humanidade, nas escolas, nas religiões e na sociedade.

Este modelo de conhecimento é insustentável e levou o planeta à insustentabilidade, colocando a humanidade num beco-sem-saída. Daí que a humanidade demandou um novo modelo de conhecimento, embasado no paradigma holístico.

Ponto de mutação quer dizer ponto de mudança. É o ponto de transição do paradigma mecanicista para o paradigma holístico.

O primeiro  paradigma é reducionista, fragmentou o conhecimento e impôs  o métodocientífico, desenvolvido nos últimos séculos.  O primeiro paradigma, o mecanicita, vê todas coisas pela parte e o segundo, o holístico ou sistêmico, vê o todo como indissociável.O estudo das partes, dissociados do todo não permite conhecer o funcionamento do organismo.

Nos nossos tempos já há uma violência generalizada nas escolas, na família, no campo, nas cidades, na ecologia, nos esportes e na sociedade em geral, onde há o câncer, AIDS, o crime, a poluição, o poder nuclear, a inflação, a carência de energia, a fome, etc. Chegamos a uma época de mudanças dramática e potencialmente perigosa, um ponto de mutação para o planeta como um todo.

Estamos precisando de uma nova visão da realidade, que permita que as forças que estão transformando o nosso mundo possam fluir como um movimento positivo de mudança social.

Esta visão foi trazida por Fritjof Capra que nos apresenta um paradigma holístico que coneta a ciência ao espírito. Onde surgiu a possibilidade de interconexão entre os conhecimentos epistêmicos e os conhecimentos holísticos.

Fritjof Capra é o autor de O Tao da Física e seu livro Ponto de Mutação, que deu embasamento ao filme é um livro muito mais ambicioso, que o Tao da Física, que tenta apresentar com êxito uma completa visão do mundo a partir do ponto de vista de um físico experiente e digno de confiança.

No filme, Uma cientista (Liv Ullmann), um político (Sam Waterston) e um poeta (John Heard) discutem a "perspectiva da crise atual", que vem da descoberta, na física, de que o velho modo "mecanicista" de olhar a vida (pensando sobre a existência das coisas em termos de seus componentes) poderia ser substituído por uma visão mais holística.

“O filme aborda um dialogo de três pessoas, que embora tenham estilos de vida e pensamentos diferentes, são abertas a novas ideias”. O dialogo dos personagens acontece em um castelo medieval na França.
Essas pessoas são americanas e fazem partes de núcleos sociais diferentes. O primeiro ator é um senador e ex candidato a presidência da republica (político). Ele se sente desmotivado com a política, argumentado não ter discurso próprio, tendo que repetir os discursos que seus acessores escrevem ou dizer o que as pessoas querem ouvir. O segundo ator é um professor de literatura e escritor (poeta) que se sente na crise de meia idade. Ele veio para a França para fugir da competitividade das grandes cidades. A terceira é uma cientista especialista em Física que vive uma crise existencial ao ver a intenção do uso militar em sua pesquisa.

O político frustrado com a visão de política dos EUA liga para o amigo (poeta) que mora na França e seu amigo acaba oferecendo uma estadia para ele, a fim de fazê-lo esquecer de um pouco da sua rotina. Ao chegar à França os dois amigos vão visitar um castelo medieval. Lá eles encontram a cientista em uma sala onde se encontra um imenso relógio antigo, que se torna o ponto inicial de toda discussão.

A cientista é convidada a entrar na conversa que o poeta e o político estão tendo sobre o relógio. Logo que ela entra na conversa ela faz uma dura critica sobre a maneira cartesiana em que os políticos de modo geral veem a natureza. Ela afirma que os políticos descrevem a natureza assim como Descartes descrevia, como um relógio onde é possível reduzir ao monte de peças onde analisado cada parte é possível entender o todo. Ela crítica dizendo que essa ideia é antiga e ultrapassada e que devemos mudar essa visão de mundo. O mundo tem que ser visto como um todo através das relações existentes entre cada objeto que compõem a natureza e que fazemos parte dessas relações. A cientista afirma que se devem abrir os horizontes para modelos sistêmicos, escapando do conforto dos processos, onde temos o controle, mas muitas vezes não a compreensão. Não se pode olhar separado os problemas globais tentando entendê-los e resolve-los separadamente. Devem-se entender as conexões para depois resolver os problemas. Com isso se consegue pensar em um mundo com crescimento sustentável com melhores condições para todos. O político discute e até aceita algumas ideias da cientista, mas a grande questão que ele aponta é: como concretizar essas ideias na política, como fazer com que as pessoas (os eleitores) consigam entender. A resposta da cientista é simples: Mudando nossa maneira de ver o mundo. Nessa resposta se consegue percebe a transversalidade da educação ambiental e a importância de ser discutido em redes de ensino interdisciplinarmente, sendo trabalhada como uma grande teia ligadas a diferentes disciplinas, a fim de analisar um fenômeno”.

“Fritjof Capra nos traz uma obra de sensibilidade e reflexão sobre as bases da existência e da integração do pensamento e das ações humanas no contexto do desenvolvimento, na busca da equação da vida e do progresso equilibrado e sustentado”.
Partindo da paradisíaca ilha de Saint Mitchel, onde existe uma fortaleza medieval que com seu isolamento temporário, pelas marés, nos traz do subconsciente a imagem do isolamento do pensamento, com suas ruelas e salas, com seus cheiros e sabores, com suas masmorras e aposentos.
O político e o poeta se vem em um dilema, cada qual preso em seu mundo, procurando nele o sucesso sua direção, tal qual uma solitária ilha. O terceiro personagem busca o caminho, se transformar no isolamento, na fuga o perdão pelos resultados de suas ações e criações.
Ao se prenderem ao seu mundo próximo e com limites claros e estruturados, dentro das muralhas do conhecido, eles tendem a aplicar de certa maneira o cinismo que apregoam como básico: a convivência com pessoas menos inteligentes ou que podem ser conduzidas, seja na política, na ciência ou na vida, como turistas sem conhecimento ao encontrarem o novo.

Na discussão sobre o papel dos mecanismos que regem o mundo, abordam a evolução do pensamento humano, passando por Descartes e chegando aos nossos dias, onde vemos os líderes, as pessoas socialmente aceitas como condutores, pensando unicamente de forma mecanicista, aplicando a forma mais simples de conduzir: o modelo cartesiano, onde dividimos o todo em partes, para estudando e entendendo cada uma, procurar entender o todo. Este entender para os políticos seria controlar, induzir, prever.

Nesta ânsia, não poupam o custo do sacrifício da vida, da existência, aplicada a uma parcela da humanidade presa pelas quatro paredes dos modelos econômicos mecanicistas, que independente do custo social, só pensam na validação econômica de suas teorias e negociações. Os sistemas existentes não encorajam a prevenção, só a intervenção, que não consideram que só se constrói um modelo de sucesso no presente, se estimularmos o futuro. Chega-se a dedução de que precisamos adotar o modelo de intervenção colocado como feminino, nutriente, construtor, ao contraposto do modelo masculino basicamente dominador.

Para o desenvolvimento de uma condição de perpetuidade e oportunidades para o futuro, dentro deste conceito de nutriente, devemos aplicar um raciocínio ecológico, em contraponto ao pensamento cartesiano clássico, pensando em um mundo de recursos exauríveis, orgânicos e espirituais, sejam da natureza ou da capacidade de absorver as injustiças sociais.
Para poder entender e aplicar este pensamento se faz crucial ativar a percepção, sendo que se somente as bordas da percepção aparecessem, tudo se desvendaria como realmente é.


Nesta forma sistêmica de pensar, identificamos os pilares como sendo as conexões, tudo se interconecta, formando mesmo com seus vazios e sem condições de definições exatas, a solidez da matéria, do pensamento e da estrutura do universo tangível. O que não vemos, o que não entendemos, necessariamente não pode ser abominado, relegado, sob pena de nossa cegueira estar baseada somente na miopia da falta de abertura para o novo.
Somos todos uma parte da teia imensurável e inseparável das relações, é nossa responsabilidade perceber as possibilidades do amanhã, pois antes de tudo somos os únicos responsáveis por nossas descobertas, nossas palavras, nossas ações, e os reflexos das mesmas no universo em que estamos inseridos.

Devemos entender e abrir nosso horizonte, para modelos sistêmicos, escapando do conforto dos processos, onde temos o controle, mas muitas vezes não a compreensão. Cabe dentro de este preceito teorizar sobre os sistemas vivos, onde temos o exemplo do homem que mirava uma árvore, mais do que caule, raízes, galhos e folhas, descobria vida, insetos, oxigênio, nutrientes, alimento, sombra, proteção, energia, uma síntese de integração.
O princípio para esta abertura é ver o todo, e antes de fracioná-lo entender sua conexão, interatividade, integração. Devemos ver o impacto global de nossa existência individual, nunca esquecendo que vivemos ciclos contínuos, renovação.

Um obstáculo para a expansão este pensamento é a clara e objetiva descoberta da interdependência, do fato de que mesmo sem o controle por parte de nossas ações, que nosso planeta flui em um processo vivo, se adaptando, transcendendo, progredindo, transgredindo padrões, evoluindo.

pensamento voltado aos processos e não as estruturas nos dá a ferramenta essencial para poder entender o princípio, os porquês e o caminho possível para esta evolução, conseguindo assim delinear a tênue e interlaçada margem entre o pensamento clássico cartesiano e o sistêmico totalmente integrativo, plotando o objetivo mestre das sociedades modernas, das mentes que buscam a perpetuidade no futuro: o desenvolvimento sustentável, a busca do equilíbrio”. (Cléber Agnaldo Arantes).

Do ponto vista gnoseolístico, ponto de mutação significa o ponto de mudança que cada um de nós deve assinalar em si mesmo, para sair do mundo da inconsciência e mergulhar no universo da consciência, por meio dos três fatores de revolução da consciência.

O Ponto de mutação em nós começa pelo trabalho de dissolução dos defeitos para fabricação das virtudes, que resulta na formação do embrião áureo, que se desenvolve por meio do áureo florescer, conforme apregoa o V.M. Saamel.
Para aprofundar-se no assunto sugiro ler o meu livro O Áureo Florescer da Consciência Holística na Educação.

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